Ele era humorista, radio ator, locutor, ator, produtor, roteirista, escritor, dublador, apresentador, compositor, pintor, comentarista esportivo, narrador e imitador. Chico Anysio fazia tudo isso e com maestria.
Filho de Haideé Viana de Oliveira Paula e Francisco Anysio de Oliveira Paiva, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, fazia piada até com a hora de seu nascimento. Nascido às 5h da manhã, “porque mamãe não queria perder a missa das sete”. Chico veio ao mundo numa cidade do interior do Ceará, Maranguape, distante 30 km da capital, no dia 12 de abril de 1931. A cidade tem desde 2015 uma estátua em homenagem a Chico Anysio.
Depois que um incêndio destruiu toda a frota de ônibus da empresa do pai, em 1944, Chico, 3 irmãos e a mãe se mudam para o Rio de Janeiro.
Já no Rio, Chico mostrava-se um adolescente rebelde, não gostava de estudar, e dos 13 aos 17 anos, Chico passou por seis colégios chegando a reprovar de ano 2 vezes. Sobre isso, Chico fala o seguinte:
"Fui do tipo idiota que matava aulas. É claro que naquela época eu achava isso uma grande esperteza. Mais. Achava que o certo era ser esperto".
Por essas e por outras, Chico levava a culpa por tudo que desse errado em casa e apanhava bastante por isso. E, inclusive, seu irmão mais velho, Elano de Paula, o espancava quase todos os dias, Chico sofreu todos os tipos de abusos do seu irmão mais velho. E ele sentia vergonha de ter passado por isso quando jovem. Tanto que a esposa de Chico, Malga di Paula, foi quem divulgou esse caso. Ela diz que o Chico revelou o motivo do porquê ele ainda andava com o irmão, mesmo depois de ter sofrido tanto nas mãos dele:
Ela diz o seguinte sobre o que Chico falava:
"eu quero dar a ele a oportunidade de me pedir perdão, por isso que eu fico perto dele. Não é por mim, é por ele. Toda vez que eu falo com ele eu estou dando a ele a oportunidade de me pedir perdão." “Isso machucou o Chico todos os dias da vida dele desde que eu o conheci. Eu chorava com ele sabendo apenas sobre o espancamento, do abuso moral, da exposição, porque uma vez o Elano o colocou pelado em um carro e saiu pela cidade. Ele era uma criança e a mãe permitia tudo. A mãe apoiava e muitas vezes a mãe mandava ele bater.”
Quando alguém espera que uma pessoa a perdoe, esse perdão vem junto com a ideia de reparação. No fundo, Chico podia esperar que seu irmão pedisse perdão e reparasse de alguma forma todo mal que ele o causou.
Muitas das coisas ruins que acontecem na infância de uma pessoa a influência pelo resto da vida. Mas, nunca foi divulgado se este acontecimento quando era jovem, o causou algum trauma. Todavia, Chico sofria de depressão, e fez acompanhamento por psiquiatra por 24 anos.
Ele se abriu sobre isso um pouco antes de morrer:
"Eu tenho um psiquiatra há 24 anos. E se não fossem os remédios que a psiquiatria dá. Se não fosse isso, eu não teria conseguido fazer 20% do que eu fiz".
Identificar o problema e enfrentá-lo mostra a força de Chico.
O artista completa sobre como que enfrentou o problema:
"Eu entendi que era depressão e eu pude pagar os remédios. E eu pude pagar ao psiquiatra, então eu venci. Porque ela é vencível".
No segundo ano do científico, Chico tinha a pretensão de se tornar estudante de direito, mas a suas notas não eram muito boas e o seu desempenho na escola não o ajudava muito isso.
Ao mesmo tempo que pensava na magistratura, Chico tentava a sorte em programas humorísticos de calouros como o programa Papel Carbono. E esta tentativa mostra que até os grandes artistas e muito talentosos precisam batalhar para conseguir seus objetivos.
Na sua primeira tentativa no show de calouros, Chico preparou 28 piadas de imitações, mas a apresentação foi um fiasco. Ele não se desmotivou, passou 1 mês inteiro treinando e se aperfeiçoando nas imitações. Chico vai ao programa novamente se apresentar, desta vez são 32 imitações de vozes de gente famosa da época. Mas desta vez foi diferente, Chico foi ovacionado, aplaudido de pé, até entre os calouros. Conquistando o primeiro lugar.
Depois do sucesso daquela noite, o jovem conseguiu espaço para trabalhar de graça na Rádio Guanabara, onde teria meia hora para apresentar o programa criado por ele, intitulado de: Parece, Mas Não É. A experiência durou apenas um mês. Ao final de 30 dias, Chico foi dispensado sob alegação de falta de audiência.
Essa tentativa que acabou dando errada, deixou Chico desmotivado e voltando a pensar com mais entusiasmo na magistratura.
Mas, quando Chico está com 17 anos, sua carreira artística começa de forma inesperada. Num certo dia, sua irmã, Lupe Gigliotti, estava saindo de casa com um amigo quando perguntou para ela aonde iria, ela disse que estava indo fazer um teste para locutor e radioator na Rádio Guanabara, Chico decidiu ir se aventurar. No teste de radioator ele ficou em sétimo lugar. Enquanto no teste de locutor ele foi bem, ficando em segundo lugar, apenas atras de outro jovem iniciante, Silvio Santos. Do dia para noite, o futuro estudante de direito tinha novas profissões.
Chico se considerava tímido, e dizia que não sonhava em ser artista, subir num palco e se apresentar para várias pessoas. As coisas foram acontecendo na sua vida de forma natural e quando ele percebeu já estava se apresentando e encantando a todos com seu talento.
Uma coisa que ele diz que sonhava era escrever. E isso começou quando em uma oportunidade depois de já ter entrado na rádio guanabara. Lá ele atuou como redator de programas humorísticos e como ator fazendo imitações.
E com relação as imitações e atuações humorísticas, Chico se viu numa posição em que tinha que dar um rumo a sua carreira e seguir como comediante. Aí apareceu a sua característica de inovar, criar, e o principal para essa situação, sua capacidade de autocrítica. Chico ao observar as suas qualidades e limitações pensa o seguinte:
“Nunca vou ter o talento do Walter D’Ávila, ser engraçado como Brandão Filho ou um ator competente como Oscarito. Tenho que inventar alguma coisa para mim”.
Sabendo do que era capaz e do que não era, Chico toma a decisão de fazer imitações e ser aquele que faz vários. E foi assim que Chico Anysio começou a fazer sucesso e não parou mais. Foram 36 anos de muito sucesso na tv Globo fazendo vários personagens e em sua carreira toda foram mais de 200 personagens criados e alguns se misturando com a história da TV brasileira.
Depois de um tempo na rádio Guanabara, parte do elenco com que Chico trabalhava vai para Rádio Mayrink Veiga, e ele vai junto. Lá ele deu os primeiros sinais da língua afiada e sôlta que tinha, numa briga que teve com o diretor. Eles discutem, o diretor grita de um lado e ele do outro. resultado, Chico é demitido.
O jovem humorista decide ir embora do Rio de Janeiro e consegue um contrato de três anos na Rádio Clube de Pernambuco. Mas ele voltaria de cabeça baixa em menos de um ano.
Tentou a sorte na Rádio Club Brasil e na Rádio nacional, mas as duas sem sucesso.
Em 1952, aos 21 anos, Chico conseguiu se integrar novamente à Mayrink Veiga, que à época reorganizava sua programação e onde já estavam diversas personalidades famosas, inclusive Haroldo Barbosa, o verdadeiro criador da Escolinha do Professor Raimundo.
Depois de uns anos de tranquilidade Chico vai migrando aos poucos para a TV. Nessa época ele trabalhava em programas de grande sucesso, como o Noites Cariocas, que apresentava o quadro da Escolinha do Professor Raimundo Nonato.
Em 1957, aos 26 anos, Chico já fazia bastante sucesso. Neste mesmo ano estreou na TV e aos poucos iria se saindo da rádio, onde ainda trabalhava como redator e colaborador, para a TV fazendo participações em programas.
No final da década de 1950 Chico se revezava trabalhando, simultaneamente, na Rádio Mayrink Veiga, na TV Rio e na TV Tupi.
Com o advento da máquina de videoteipe, foi possível colocar em prática um programa que contivesse vários personagens de Chico contracenando na mesma cena.
Foi aí que surge o grande fenômeno da TV brasileira, Chico Anysio Show, estreando em 1960 e escrito por Chico Anysio, Haroldo Barbosa e Roberto Silveira. O programa foi um sucesso, ficando no ar até 1964 na TV Rio. Foi aí também que surge o Chico Anysio, antes só o chamavam de Francisco.
Nesse meio tempo, mais uma vez a língua afiada e sinceridade fazem com que Chico tenha alguns desentendimentos. Chico brigou algumas vezes, mostrando que também não era fácil de se lidar.
Foi Chico que deu um toque no Lucio Mauro filho para ele ir para o elenco de humor do globo, falando que estava desperdiçando seu talento em outras áreas da dramaturgia da Globo.
Durante os anos trabalhando na TV, principalmente na Globo, Chico mostrou a sua língua afiada e sinceridade exacerbada. Isso fez com que ele tivesse alguns desentendimentos, mostrando que também não era fácil de se lidar.
O primeiro foi em 1964, quando Chico tinha acabado de sair da TV Rio para a TV Excelsior, ele teve um desentendimento com Carlos Manga. Manga era o diretor dos programas do Chico e foi quem o ajudou na ideia de juntar todos os personagens num único programa. O humorista diz o seguinte:
"Uma noite, o Manga foi à minha casa, me olhou diferente, por detrás das olheiras, e começou uma conversa que me desagradou profundamente."
Manga fala o seguinte:
"Chiquinho, a gente pode ter esta estação na nossa mão. É só um de nós ser diretor-geral. O Casé toma conta de o Homem e o Riso, e eu fico com o Chico Anysio Show. Vou me oferecer para a direção-geral."
Chico ficou com muita raiva e saiu da TV Excelsior. Mas logo depois, sem oportunidades, Chico volta a TV Excelsior sendo dirigido por Carlos Manga.
Um outro desentendimento foi em 1973, com parceiro de criação, Arnoud Rodrigues. Os dois criaram o programa Chico City, em 1971 na TV Globo, em que uma cidadezinha fictícia seria um microcosmo do mundo. Chico não gostou de um comentário de Arnoud. Chico revela o seguinte:
“A maioria dessas coisas eu fiz com o Arnoud. Até que ele começou a dizer aos meus filhos que sem ele eu não existia. Eu o liberei, e ele foi para a Tupi, andou pela Record, perdi notícia dele. Segui minha vida”.
Ocorreu uma discussão na TV Globo, de onde Arnoud saiu batendo a porta da sala do diretor falando:
“Daqui a seis meses você vai ver quem é o verdadeiro Chico Anysio”.
Chico seguiu a vida, mas nos próximos anos o programa começou a declinar, sentindo o efeito do fim da parceria com Arnoud. O programa somente voltou a ser um sucesso depois que Arnoud foi novamente convidado para ser redator.
No final da década de 1980, acorreu mais uma briga na lista. Um jornal de São Paulo publicou que Chico teria chamado Jô Soares de preguiçoso.
Neste vídeo, Chico explica que não concordava com o término do programa humorístico do Jô, Veja o Gordo, pois iria deixar alguns colegas humoristas desempregados, e fala um pouco sobre esse desentendimento.
“Acho que o Jô parou por comodismo, por preguiça”
Em outra entrevista Chico revela que tentou se acertar com Jô mas não teve retorno e acaba soltando a sua costumeira língua afiada:
“Tentei falar com Jô, mas ele não gostou muito de eu falar.....não me faz a menor falta. Posso viver sem o Jô tranquilamente na minha vida e ele pode viver sem min”
Após isso, os dois cortaram relações voltando a se falar mais para a frente, inclusive com participações de Chico no programa do Jô.
Esses são alguns dos desentendimentos de Chico Anysio, existem outros também, como Juca Kfouri, Cláudia Gimenez, Sérgio Groissman e Ana Maria Braga.
Em entrevista concedida em 1989 para a revista Visão, Chico demonstrava uma insatisfação com a TV Globo e seus projetos. Segundo Chico, a emissora estava preferindo dar oportunidade aos mais jovens o deixando de lado. Mas mesmo achando isso, Chico deu oportunidades a vários artistas em início de carreira. Chico não ajudava só artistas novos, mas também artistas veteranos que não conseguiam mais oportunidades, mostrando-se um humano generoso e elegante. O resgate de dezenas de grandes nomes do humor, bem como a revelação de promissores talentos, não tem precedentes na história da comédia brasileira e, provavelmente, mundial.
E o principal local onde os artistas veteranos ganharam uma oportunidade foi a escolinha do professor Raimundo. Em 1990, a escolinha volta, mas com um formato totalmente novo. Agora são 20 alunos e sendo um programa independente. Antes, a Escolinha era montada sempre com a participação de três ou quatro personagens como alunos. O novo formato trouxe luz a muitos artistas veteranos, que não tinham mais oportunidades e não conseguiam mais trabalho. Com a ajuda de Chico Anysio, eles ficaram eternamente gratos.
Como exemplo de um artista jovem que Chico deu oportunidade, podemos citar o Tom Cavalcanti. Depois de muito tentar entrar em contato com Chico e mostrar a ele seu talento, Chico dá a oportunidade de Tom ser redator dos seus personagens. Depois Chico coloca Tom na escolinha do professor Raimundo como o icônico João Canabrava.
Chico ajudou Tom Cavalcanti em mais uma situação. Enquanto Tom trabalhava no Rio de Janeiro como redator de alguns personagens do Chico, sua filha recém-nascida prematura estava em Fortaleza. Chico fica sabendo disso e faz um cheque do equivalente a 250 mil reais atualmente e diz para o Tom ficar em fortaleza o tempo que fosse necessário para cuidar da filha e de lá iria enviando textos escritos dos personagens.
A relação de Chico com Tom Cavalcanti teve uns momentos de idas e vinda, brigas e pazes.
Já fazendo shows pelo Brasil todo Tom recebeu um pedido para que substituísse Chico num show no mesmo dia, pois chico estava doente. Tom negou. Depois o jovem artista alegou que estava com faringite e seus equipamentos não estavam com ele.
Tom Cavalcante se apresentava pelo Brasil com o seu espetáculo, Cana & Brava, do qual Chico Anysio era diretor e roteirista. Num certo momento Chico decide processar Tom e solta sua língua afiada:
“Tom está me devendo desde que mudou de empresário no início do ano. Mas nem acho que seja culpa do empresário. Tom não quer que ninguém ganhe com ele”.
Uma outra briga foi quando Chico estava tentando voltar com seu programa, Chico Total, uma das apostas da Globo para a nova programação. Tom deveria estar com ele, mas o jovem humorista acabou indo para outro projeto, o Sai de Baixo. Diferente dos outros desentendimentos, esse foi mais feio, os dois ficaram 1 ano e meio sem se falar, voltando a amizade depois e em 2005 eles estrearam o espetáculo, Chico.Tom, em que cada um faz uma apresentação e em seguida, se juntam, para interpetrar os consagrados personagens, Professor Raimundo e João Canabrava.
Chico tem mais um caso de briga com humoristas promissores.
Foi uma desavença com os integrantes do Casseta e Planeta, em 1988, quando eram novatos na rede globo e trabalhavam como redatores do programa TV Pirata.
Quando Chico foi convidado para escutar a leitura do programa piloto, ele ficou marcado como ser contra a TV Pirata pois teve um atrito com o roteirista Cláudio Paiva. Chico afirmou que Cláudio Paiva não poderia escrever o programa e ser redator final ao mesmo tempo, argumentando que, daquela forma, ele daria preferência aos próprios textos. Chico fala sobre a qualidade do programa piloto:
“Quando o programa foi lido, ele foi lido por Daniel Filho, por Carlos Manga e por min. Nós três ouvimos o programa.......e o......foi desastroso, na opnião do Manga e do Daniel também.”.
A entrevistadora pergunta se eles fazem humor pra "Gueto" e ele responde:
“Não! Eu acho sem graça mesmo. Estava ruim. E a única pessoa a favor do programa foi eu. Eu acho que tem remédio.”
Chico leva quase 400 esquetes e organiza e analisar a qualidade. Ele explica sobre o momento da devolução:
“Juntei aquilo tudo. O melhor material do pessoal que estava lá era do pessoal do Casseta e estava desprezado, não estava sendo usado. Aí lembrei que peguei uma tirinha do Luis Fernando Verissimo e botei junto de brincadeira.....que era assim: No primeiro quadradinho o cara dizia assim: "o velho sol", aí no segundo quadradinho o outro dizia: "a velha lua", e no outro quadradinho um outro dizia: "é, tem hora que tem que chamar profissional". ”
Cláudio Paiva falou que não trabalharia mais com Chico.
Segundo foi quando os jovens humoristas faziam o programa, Casseta e planeta urgente. Para o veterano humorista, os rapazes do Casseta faziam um tipo de humor elitista, “só para a zona Sul” do Rio, ao contrário do seu humor, de caráter popular. Além disse, Chico não considerava os Cassetas bons atores.
Isso tudo mostra que Chico gostava de ter de certa forma o controle da área de humor da TV Globo. Além disso, ele gostava de ajudar e dar suas opiniões baseadas na sua experiência.
Existem também casos de envolvimento de Chico com política. O primeiro caso mostra a coragem e a importância que Chico tinha no cenário nacional.
No final da década de 1970, Chico Anysio, de forma irreverente e sutil, conseguiu empregar o humor como crítica social e política e despertar, pelo riso e o deboche, o interesse, a percepção e o sentimento popular.
Ele fazia a personagem Salomé Maria da Anunciação, uma simpática idosa que se comunicava por telefone com um ex-aluno de nome João Baptista. Na verdade, o quadro se endereçava ao presidente da República, o general João Baptista Figueiredo, e membros de destaque do governo federal, isso tudo em pleno regime militar.
Depois, em uma entrevista de 1993, Chico diz que pensou em entrar para Política como Deputado Federal, ele explica retomando o sonho quando jovem de seguir a magistratura. Mostrando que guardava uma certa frustração por não ter entrado na carreira de advogado.
Chico Anysio tinha uma coincidência com seu pai na questão de ter vários casamentos e filhos. Seu pai, Francisco Anysio de Oliveira Paula, conhecido como Coronel Oliveira Paula, casou-se quatro vezes, teve 17 filhos – cinco deles com a mãe de Chico.
Já Chico casou-se 6 vezes e teve 9 filhos
FAFY SIQUEIRA, que teve um pequeno caso com ele antes do casamento dele com Zélia Cardoso de Mello, disse o seguinte: “ele era tão charmoso tão interessante que ele tinha quem ele queria” e completa: “ele era envolvente, tão discreto, tão feminino”. Fafy disse que o envolvimento não seguiu a frente porque ele queria ter mais filhos.
Voltando sobre a questão da depressão do Chico, seu filho, Nizo Neto, fala em uma entrevista sobre isso e complementa:
“Ele tinha uma depressão funcional, meu pai sempre foi meio hipocondríaco, mas nunca assumiu” Ele pagava mensalmente um salário para um farmacêutico ir uma vez por semana na casa dele e aplicar injeção. Ele não tomava comprimido e quando tomava parecia que tava ingerindo um tijolo. Ele adorava cirurgia, gostava de um hospital”,
Se quando novo, Chico já não fazia muita questão de ser contido e polido em suas palavras, no fim da vida Chico resolveu soltar de vez a sua metralhadora fazendo duras críticas a diretores e direção da Globo. Sendo até um pouco preconceituoso, inclusive quando foi comentarista esportivo.
Já no final da carreira e nas últimas gravações da escolinha do professor Raimundo, em 2007, Chico publicou em seu blog um desabafo acusando a Rede Globo de tê-lo proibido de ler, no ar, uma carta de despedida, no último dia de gravação do programa. Chico diz o seguinte:
“Não sei bem a razão da proibição. Sequer deixaram eu me despedir da Escolinha do Professor Raimundo, em 2001, fiquei muito triste, porque ninguém falou nada e demorei a perceber que o programa não ia voltar. Fiquei pensando que, por tudo que fiz pela Globo, não merecia aquilo.”
Em 2006, Chico foi colunista convidado do jornal Lance. Em um de seus artigos, denominado "Cabelos em pé, galera!", Chico teceu críticas a alguns jogadores da seleção brasileira, como Cafu e Ronaldo. No mesmo artigo, ele fez críticas à Dida, dizendo:
"Não tenho confiança em goleiro negro. O último foi o Barbosa, de triste memória na Seleção"
Depois, Chico tentou amenizar e se defender do que tinha falado, mas não dava mais.
Mais uma vez, através de seu blog, chico critica a TV Globo pelos investimentos nas contratações de Ana Maria Braga, Serginho Groisman e Luciano Ruck. Também cobrou dívidas antigas de Walter Avancini e acusou Manoel Carlos de nepotismo por empregar a filha Julia Almeida na novela, Laços de Família.
Em outra situação de em que acaba falando de forma preconceituosa foi quando, seu filho Nizo, não consegue papel para trabalhar em alguma novela. Chico ficou indignado e mandou um e-mail coletivo para cerca de 100 destinatários, afirmando que o motivo da recusa seria a grande quantidade de diretores gays na nova cúpula da Globo. Ele disse que
“O fato de darem emprego a homossexuais explica. Primeiro, os que são iguais a eles”.
As falas preconceituosas já no fim da vida foram, no mínimo, infelizes, mas não se pode pautar uma vida inteira de entrega as artes, de tanto talento em uma só pessoa, de várias facetas e fazendo humor, levando alegria ao povo e se comunicando com ele. Chico tinha um respeito enorme pelas lendas da dramaturgia e do humor, tanto que ajudava quem podia e quem não podia.
Chico era apaixonado pelo que fazia, era extremamente criativo e sua mente inquieta queria sempre produzir mais e criar mais. Ele mesmo fala um pouco mais sobre essa sua característica:
“A grande falta que senti na vida foi de dias mais longos, para que eu pudesse espalhar por muitas horas extras a compulsividade do meu trabalho. Trabalhar, para mim, é tão importante quanto respirar. Nem é importante se o fará brilhantemente, mas fazê-lo é importantíssimo”.