Considerado por muitos como o último grande ídolo do rock brasileiro e possivelmente por ainda muito tempo, Alexandre Magno Abrão, o Chorão, Tinha uma combinação de personalidade própria.
A sua esposa, Graziela Gonçalves, que viveu com ele por 20 anos diz que:
“A mistura da sensibilidade com a cultura de rua em que ele cresceu fez o contraste da sua personalidade”.
Suas composições chamavam a atenção por retratarem momentos de sua própria vida, como é o caso de Proibida Pra Mim, inspirada na esposa, além de várias outras canções com citações da infância difícil como Dias de Luta e Dias de Glória.
Ele também tinha uma fama de brigão, mas que por trás dessa imagem era uma pessoa muito sensível e com um coração enorme, e que durante a sua vida, passou por momentos complicados e que marcaram a sua personalidade.
Chorão teve uma infância e adolescência difíceis. Já novo, ajudava a sua mãe a entregar pasteis que ela fazia, além disso sua mãe era doméstica. Aos 11 anos seus pais se separaram.
Aos 14 anos ele teve um grande susto na sua vida, a sua mãe teve um derrame e quase faleceu. Isso fez com que ele aumentasse sua responsabilidade. Nesta mesma época ele conheceu uma de suas grandes paixões da vida, o skate, mas também deixou de ir à escola e passava a maior parte do seu tempo na rua.
Um outro acontecimento que ficou marcado em sua adolescência, foi quando ele estava estudando em uma escola particular, isso o motivou a estudar. Mas seu pai não conseguia bancar a mensalidade da escola e o Chorão em um momento foi impedido de fazer uma prova. Isso o deixou tão envergonhado e humilhado que ele largou a escola.
Já na fase adulta, Chorão não conseguia se manter num emprego e aos vinte anos ele foi pai de seu único filho, Alexandre Abrão. Chorão teve problemas com a polícia. Teria sido preso várias vezes e seu temperamento explosivo o levava a arranjar brigas com facilidade.
Em meados do ano 2000, Chorão perdeu o pai. Isso o deixou abalado e desmotivado. Ele disse:
“Passei por várias dificuldades neste ano, desde financeiras... perdi meu pai... e você tem que tentar lidar com isso numa boa, até você aceitar rola uma mudança, uma metamorfose.”
Com isso a banda decide dar uma parada. Esse fato quase o fez deixar a banda. Levou seis meses até que Chorão, desgrenhado e com 20 kg a mais, sedentário e desmotivado, conseguisse se reerguer.
Chorão mostrava-se extremamente atencioso e carinhoso com seus fãs. Certa vez tranquilizando uma fã que diz estar sem dinheiro para comprar os CDs da banda, e ele diz o seguinte:
"Só parei pra falar contigo, te agradecer por isso tudo e falar pra você que é o seguinte: Tudo que você busca em mim, Que você possa buscar em mim, tá dentro de você. Tá no seu coração, na tua cabeça. Eu sou só o reflexo das coisas que você acredita. E ás vezes eu digo uma coisa que vem de fora E ás vezes precisa escutar de fora pra poder acreditar, Mas está tudo dentro do teu coração..... São pessoas como você que me faz prosseguir e continuar, tá ligada? Eu tô na parada porque eu sei que também tem uma galera especial que gosta de mim."
A fã diz que não tem dinheiro para comprar os Cds da Banda e Choão fala o seguinte:
“Baixa o som. Não gasta dinheiro com essa porra! Baixa o som, tá ligada? Baixa o som e curte o barato. O som é pra vocês, não precisa comprar.” "Ame as pessoas e use as coisas. O máximo que você puder, valeu?"
Em diversos vídeos pode-se observar Chorão preocupado com a segurança e condições dos fãs na platéia.
Por muito tempo, Chorão ajudou diversos projetos sociais, ONGs, arcou com toda a parte financeira na construção de um prédio no Hospital do Câncer de Barretos, atual Hospital de Amor, entre outros. Ele ajudou muita gente necessitada, isso sempre de forma discreta, sem que muita gente soubesse.
Mas, por outro lado, Chorão também ficou conhecido pelo seu temperamento explosivo, algumas vezes externado em forma de agressão. Chorão não absorvia muito bem as críticas que ele ou sua banda levavam.
Em 2003 ocorreu um suposto tapa num jovem. Chorão não aceitou a crítica do jovem a sua banda.
No mesmo ano, Chorão tentou iniciar uma briga com o músico Badauí, da banda CPM 22. Pois não gostou do que os integrantes da Banda CPM 22 disseram em off sobre o chorão e sua banda. Mais para frente Chorão e Badauí resolveram suas pendências e se acertaram.
Já em 2004 a briga da vez foi com os integrantes da Banda Los Hermanos. Charlie Brown Jr e Los Hermanos estavam no mesmo voo em direção a um festival no Piauí, Chorão, já sabendo que os integrantes da banda estavam no voo, entrou no avião dizendo que iria atropelar as bandas que falam mal do Charlie Brown. Numa parada em Fortaleza o vocalista Marcelo Camelo teria chegado junto ao Chorão para conversar quando foi agredido, Rodrigo Amarante foi defender o colega de banda e agrediu Chorão no rosto.
Em 2005 ocorreu uma briga entre os integrantes da banda, de um lado o empresário Pipo e o Chorão e de outro Marcão, Pelado e Champignon levando a uma separação da formação original da banda e saída de Marcão, Pelado e Champignon. Ter sido acusado por alguns fãs de roubar os outros integrantes da banda levou a uma pressão psicológica em toda sua família. Esse fato levou Chorão a intensificar o usa das drogas.
Os últimos meses de Chorão estavam complicados, ele estava muito frágil emocionalmente. A Viúva dele, Graziela Gonçalves relata no livro, "Se não eu, quem vai fazer você feliz", que um acontecimento ativou um gatilho no chorão, ao ele saber que não poderia ser bombeiro, um antigo sonho, isso causou uma desestabilização emocional. Ela tem o seguinte relato:
“Nos últimos anos, a preocupação com o humor dele já tinha se tornado uma constante na minha vida”.
Apesar do retorno recente e bem-sucedido da formação antiga do Charlie Brown Jr. o estado de espírito dele era a insatisfação permanente” segundo Graziela, Chorão disse:
“Quero fazer alguma coisa que me preencha, que me faça sentir vivo de novo”.
Isso demonstrava o estado mental que ele vivia, como conta Di Ferrero, do NX Zero que quando chorão tinha uns 42 ele disse:
“Pô, eu tô cansado, cara”.
Chorão ficou marcado por uma geração porque pensava e agia em nome dela e a responsabilidade de ser um exemplo e influência, o obrigava a sempre se mostrar feliz e disposto no palco, mesmo estando com problemas pessoais. Lidar com isso nos últimos meses de vida dele foi difícil.
Já quando o Chorão estava num estado altamente depressivo e consumindo droga constantemente a produtora da banda chegou na viúva dele e disse que não aguentava mais, a partir daí a família foi tentar de todas as formas uma internação, mas não conseguia, pois ele não queria.
Um amigo de Chorão de muitos anos, Glauco Veloso, relatou ao G1 que foi uma das últimas pessoas a falar com Chorão, “o sentimento é de que ele ligou pra se despedir”, Glauco falou ainda:
“De dois anos pra cá, foi muito punk. Senti que ele estava muito estranho. Ele estava já na maior deprê, umas coisas estranhas, não estava mais andando de skate. Ele falava que queria morrer. Ele se abria muito comigo. Vou te falar, eu não consigo parar de chorar.”
A combinação de droga com o estado possível de depressão foi fatal para Chorão, o fraco coração não aguentou a quantidade de cocaína encontrada no sangue. Chorão nos deixou na madrugada do dia 06 de março de 2013 e, dentre tantos ensinamentos e frase encerramos esse vídeo com uma delas.