Antes de falarmos sobre a personalidade de Erasmo Carlos, contaremos um pouco sobre sua carreira de sucesso.
Erasmo Esteves nasceu no Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca em 5 de junho de 1941. Era amigo de Tim Maia desde a infância. Tem até um caso curioso de uma briga envolvendo os dois. Tim entregava quentinhas na vizinhança. Um certo dia, Erasmo foi reclamar com seu amigo sobre um atraso na entrega, Tim saiu correndo atrás dele furioso com um pedaço de ferro na mão.
Seu interesse pelo rock ganhou força depois de um show de Bill Haley no ginásio do Maracanãzinho. Erasmo saiu de lá encantado. Chegando aos amigos da Tijuca, resolveu montar a banda "The Boys of Rock", que era formada com os dissidentes da banda, The Sputniks, depois que a banda se dissolveu após a famosa briga entre Roberto Carlos e Tim Maia.
Por sugestão de Carlos Imperial, o grupo passou a se chamar The Snakes e acompanhava tanto Roberto quanto Tim Maia em seus respectivos shows. E foi nessa época que Tim Maia ensinou o Erasmo Carlos a tocar violão, como pode ver no relato dos dois.
Roberto Carlos estava precisando da letra da música “Hound Dog”, de Elvis Presley, então, um amigo em comum entre eles, apresentou, o ainda chamado Erasmo Esteves, ao seu grande amigo da vida, Roberto Carlos. Aí começou uma das maiores parcerias e amizades da música popular brasileira e ali ele fala do amigo: "Descobri com o Roberto Carlos que a gente podia fazer rock em português"
O grupo vocal “The Snakes” se apresentou em alguns lugares, mas sem fazer grande sucesso. E, mesmo depois de fazer seu único LP, o “Só Twist”, em 1961, o grupo não alcançou o sucesso esperado e, com isso, o grupo chega ao fim. Sem saber o que fazer, Erasmo consegue um trabalho com Carlos Imperial e depois toca com o grupo Renato & Seus Blue Caps, em 1962. Ao mesmo tempo, Erasmo tornou-se versionista para diversos artistas.
Erasmo resolveu adotar o nome Carlos no nome artístico em homenagem ao Roberto Carlos e a Carlos Imperial, e com esse nome lançou o compacto de grande sucesso, com a música O Terror dos Namorados
A Jovem Guarda teve influências o pop britânico e ganhou popularidade definitiva a partir de setembro de 1965, com a estreia do programa Jovem Guarda na TV Record. Esse programa teve a duração de 3 anos e era apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa e seus estúdios ficavam na cidade de São Paulo. O programa deu visibilidade para que Erasmo e Roberto se tornassem os principais nomes e compositores da Jovem Guarda.
Já com grande sucesso compondo e cantando músicas, Erasmo faz filmes com Roberto Carlos e Wanderléa.
A partir da segunda metade da década de 1960, Erasmo gravou discos acompanhados de: Renato e seus Blue Caps; os Fevers; The Jet Black´s; The Jordans e Som Três, de César Camargo Mariano.
Erasmo migrou para outros estilos musicais após o declínio da jovem guarda e do programa na Record. Com isso ele passou a tocar mais bossa nova e MPB, e durante a década de 1970 e início da de 1980, já na gravadora PolyGram, o nosso “gigante gentil” deixou discos gravados que mesclaram suas raízes roqueiras com as tendências da MPB e uma influência do movimento tropicalista e pela música negra americana.
No início dos anos 1980, Erasmo Carlos entra num projeto chamado “Erasmo Carlos Convida “que teria a parceria de diversos artistas e que cada faixa do disco era cantada com um artista diferente, com a faixa de mais repercussão “Sentado à Beira do Caminho", cantada junto com Roberto Carlos, mais repercutido.
Ao longo dos anos Erasmo sempre lançava um disco, e durante a década de 1990 a maioria de suas composições eram feitas na pareceria do Roberto Carlos e regravou antigos sucessos, participando de homenagens à Jovem Guarda e de discos-tributos variados.
Na década de 2000, ele lançou discos de comemoração de seu aniversário de 60 anos, e de aniversário de sua carreira de 40 anos. Ele relança o projeto de duetos com outros artistas, o “Erasmo Carlos Convida volume 2” e a faixa de maior destaque é "Olha", em dueto com Chico Buarque.
Em 2009 Erasmo lança um disco em homenagem ao Rock an Roll, e com várias parcerias.
Nos anos seguintes, o tremendão continuou lançando discos e músicas, e com destaque para a regravação de um sucesso dele e de Roberto Carlos, “Além do Horizonte”.
Erasmo Carlos era um otimista, mesmo passando por momentos difíceis na sua saúde enfrentando o alcoolismo, 2 cânceres e problema no coração. Superou todos esses problemas olhando pra frente e enfrentando-os.
Passou por perdas complicadas também, com a morte da sua esposa em 1995, que tirou a própria vida, e a morte do filho num acidente. Erasmo dizia:
“Eu só busco minha fé e a minha própria religião dentro de mim, na bondade e no amor ... sou um cara amoroso pra caramba”
O tremendão sempre teve o coração e os ouvidos aberto para tudo, como ele mesmo diz:
“Eu sempre tive um ouvido muito bom para o novo, um ouvido aberto para todo tipo de música, eu não sou radical de nada”
O gigante gentil nunca foi de briga, era um homem querido, delicado e cheio de amigos.
Poucos dias antes de morrer, com 81 anos, Erasmo venceu o Grammy Latino com o álbum "O futuro pertence à Jovem Guarda", com arranjos novos de seus grandes sucessos.
Erasmo Carlos deixa legado de mais de 600 músicas e diversas parcerias de composições e duetos cantados. Vários artistas regravaram seus sucessos.
Quando tinha 75 anos, Erasmo falou da forma como encarava a vida e a velhice. E é com essa frase e o espírito sempre jovem é que nós terminamos este texto.
"Não tenho cabeça de idoso, me sinto um garoto. Tenho meus filhos e netos e acompanho o mundo deles, participo, não fico esperando que eles cheguem até a mim. Também não sou homem de ficar me lamentando. Deus me livre ser assim".