Como era a personalidade do Pelé

Ele é simplesmente o atleta do século. O único jogador a ter três copas do mundo. O jogador mais jovem a marcar gol em final de copa do mundo, como também o mais novo a levantar o troféu. Esse é o mito, a lenda, o Pelé.

Veja abaixo o vídeo sobre a Personalidade do Pelé no nosso canal do YouTube. ⤵️

Foram as dificuldades da vida que moldaram a personalidade de Pelé e o seu futebol. Pelé não tinha dinheiro para comprar uma bola de futebol, então, ele costumava praticar com uma laranja ou meia recheada com jornal amarrado com um barbante. Mesmo em condições tão difíceis, o foco principal de Pelé era aprimorar suas habilidades no futebol, o que mostra sua força de vontade ao atingir seu objetivo.

Pelé não era apenas mais um jogador de futebol comum; ele foi um herói inegável. Isso se deve em parte à sua bravura e resistência mental durante as dificuldades que experimentou.

Foi também pela forma como recriou o futebol através da sua dedicação, devoção e coração que colocou no que amava, brilhando e inspirando os outros.

Por causa da determinação, bravura, paixão, e logicamente, o talento, Pelé mudou o futebol e a história para sempre.

O menino pobre que nasceu em 23 de outubro de 1940 na cidade de Três Corações, em Minas Gerais, com Edson Arantes do Nascimento e que, no início de vida, era carinhosamente chamado de Dico. Filho do jogador João Ramos do Nascimento, mais conhecido como Dondinho, e Celeste Arantes. Aos 4 anos seu pai foi para Bauru atrás de uma oportunidade que Dondinho teve de ir jogar no Bauru Atlético Clube, e de benefício teria um emprego fixo na prefeitura da cidade.

Quando criança Pelé era um menino levado, no bom sentido, e amigo de todo mundo. Ele adorava, logicamente, jogar futebol na rua, mas o único problema eram as vidraças dos vizinhos que de vez em quando quebravam. Pelé gostava de jogar botão com o irmão Jair, mais também conhecido como Zoca, porém, ele as vezes se irritava, pois, seu irmão o ganhava com frequência. E quando Pelé tinha 6 anos a família passou dificuldade financeira, depois que seu pai fraturou o joelho e ficou um tempo sem jogar futebol.

Quando tinha 15 anos, o técnico, Waldemar de Brito, o levou para jogar no Santos. E ao chegar à cidade de Santos disse: “Esse moleque vai ser o melhor do mundo”.

Em poucos minutos de teste no Santos, o treinador já ficou impressionado e o contratou na hora. Isso foi em 1956. Um ano depois já jogava pela seleção brasileira e, apenas 2 anos depois, Pelé, na Suécia, leva o Brasil ao título da Copa do Mundo. Ele marcou dois gols na final contra a Suécia, aos 17 anos.

Durante a copa de 1958, o Jornal dos Sports fez uma matéria com o craque-garoto que havia feito o único gol da vitória contra Gales e o classificaram como: “Tímido, humilde, escondido, de voz apagada, este é Pelé, menino puro, jogador de coração generoso”.

Ao longo dos anos o menino tímido foi dando lugar ao homem seguro e de personalidade forte. Mas a humildade continuava a mesma. Pelé demostrava um respeito enorme pelos fãs e jornalistas. Ele dava milhares de autógrafos e tirava várias numa paciência única. E respondia sempre com muita educação e simpatia as perguntas dos jornalistas. Pelé sabia muito bem o seu tamanho e o que representava.

Pelé era notoriamente tranquilo, gentil, alegre e um amigo confiável.

Didi, de 84 anos, um dos amigos mais antigos de Pelé e seu barbeiro há 55 anos, disse: “Pelé sempre foi um cara muito legal. Passaríamos tanto tempo conversando. Ele não tinha nenhuma atitude de estrela”.

Já o jornalista, Paulo Cesar Vasconcelos fala sobre o efeito que o Pelé tinha nas pessoas:

“As meninas queriam Pelé como namorado, os meninos queriam Pelé como irmão, os pais queriam Pelé como filho e todos queriam Pelé como vizinho. Ele era totalmente cativante. Seu carisma natural deu a ele qualidade de estrela.”

Uma característica curiosa e marca registrada do Pelé era o seu famoso: Entende? Ao final de cada frase.

Além de ser o melhor jogador de futebol do mundo, Pelé também se aventurou no showbusiness. Amante da música, gravou um álbum com Elis Regina, tocou sua música com Maradona e atuou em vários filmes, tornando-se também uma estrela pop.

Pelé acreditava no trabalho duro e dedicação para ter sucesso. Em um trecho do Livro, “Jogando com Pelé, de 1974, livro este que é um programa de treinamento com dicas sobre como aprender a praticar futebol, Pelé diz o seguinte:

“Não sou muito adepto da teoria de que um jogador já nasce feito. Você pode nascer com certas aptidões, dom ou talento. Mas que você, ao nascer, já está destinado a ser um craque de bola, sinceramente, não acredito e não concordo. Sucesso não é acidente. É trabalho, perseverança, aprendizado, estudo, renúncia e, acima de tudo, muito amor àquilo que se está fazendo, ou preparando-se para fazer”

A ética do trabalho está presente nos discursos proferidos por Pelé e acabou atrelada à sua imagem.

Por mais incrível e emblemática que a figura do Pelé fosse e toda a importância do que ela representou até hoje. Por de trás dessa figura existia o homem Edson. E por mais que uma pessoa se pareça perfeita, ninguém é perfeito. E um problema que o Edson teve durante a vida é que quando o Pelé entrava em cena, o Edson precisava sair. E com o nome, Pelé, como, provavelmente a pessoa mais conhecida do planeta. Sua demanda era enorme. E para honrar essa demanda, sobrava pouco tempo para as demandas do homem Edson. E isso impactou na presença do Edson como marido, e, principalmente, como pai.

A difícil conciliação entre o trabalho que o mito Pelé exigia e a atenção que sua família merecia fez com que Pelé não fosse um pai presente e um marido fiel, São inúmeros os relatos de filhos dele e do próprio Pelé admitindo isso.

E essa questão de dividir Pelé de Edson, era um tanto quanto confusa. Pelé muitas vezes quando estava em casa sem trabalhar, se referia a ele em terceira pessoa. Falando frases com: O Pelé fez isso, ou, o Pelé pode isso. A apresentadora Xuxa, que namorou com ele por 6 anos, dos seus 17 anos até os 23 anos fala um pouco sobre isso.

“Pelé realmente tem dupla personalidade, ele fala na terceira pessoa. Então, essa coisa de dizer: o Edison ou o Dico ou o Pelé. Eu via a marca de batom nele e ele dizia: Essas mulheres ficam querendo agarrar o Pelé.”

Pelé disse uma vez que amou tantas mulheres que não tinha ideia de quantos filhos teve. Oficialmente, Pelé teve sete filhos: Celeste, Edinho, Flávia, Jennifer, Joshua, Kely e Sandra Machado, legitimada por uma ação na justiça.

Pelé se culpava pelas más companhias que seu filho Edinho teve, e que culminaram em uma condenação para cumprir pena de seis anos de prisão por homicídio, devido a seu envolvimento em um racha ocorrido em Santos, no início da década de 1990, e que deixou um morto. Essa sentença foi anulada. Em 2005 Edinho foi preso envolvido com tráfico de drogas e admitiu ser usuário e dependente de drogas, permaneceu preso por seis meses e posteriormente foi condenado a 33 anos de detenção.

Em fevereiro de 2017 teve sua pena reduzida 12 anos e dez meses, tendo de cumpri-la em regime fechado. Uma semana depois, o ex-atleta foi solto por decisão do ministro Antônio Saldanha Palheiro do STJ.

Voltou a trabalhar no meio futebolístico em outubro de 2021, quando passou a treinar o Sub-20 da equipe paranaense do Londrina.

Depois de se aposentar dos gramados, que aconteceu definitivamente no dia 1º de outubro de 1977, o principal ofício de Pelé foi ser garoto propaganda de diversos produtos.

Sua agenda também era cheia de aparições em eventos dos mais diversos.

Muitos criticavam por Pelé não se posicionar em certas questões que alguém tão relevante quanto ele poderia fazer e ter um impacto na sociedade muito maior, essas pessoas falavam que ele só se preocupava em ganhar dinheiro com sua fama.

Uma outra crítica que Pelé recebeu foi quando brigou na justiça para não reconhecer a sua filha, Sandra Machado, que depois foi legitimada após ganhar a ação na justiça, no início dos anos 1990, após um teste de DNA. E em 1996 ela pode utilizar o sobrenome Arantes do Nascimento. E nunca houve relacionamento entre eles.

Em uma entrevista ao jornalista Milton Neves, Pelé dá a sua versão para a briga na justiça e o distanciamento da filha.

"Até hoje ninguém sabe toda a história envolvendo minha filha. O que houve é que fui um dia procurado e me contaram sobre uma suposta filha minha. Conversei normalmente sobre o assunto e ponderei que aquela era a terceira ou quarta pessoa a imaginar ou verificar se eu era pai de outras crianças. Nenhuma vingou. Aí, pedi fotos da Sandra e de cara senti que ela realmente se parecia comigo”

Pelé ainda deu detalhes sobre os acordos com Sandra e afirmou ter solicitado para que a documentação fosse feita.

"Depois disso, a relação com alguns interlocutores passou a não ser mais tão amistosa, principalmente quando o genro entrou na história. Algumas cobranças, aparentemente incluindo também cobranças financeiras, soavam como chantagem, na base de `o público vai saber´. Me senti pressionado. Os encontros, aí com advogados dos dois lados, passaram a ser mais formais, longe de uma relação de pai para filha, com o agravante que a Sandra já era mãe”.

E por suas opiniões conservadoras, foi muito criticado durante sua vida e enfrentou muitos questionamentos por não defender as causas que lhe pertenciam.

Pelé não era uma ativista muito presente e com opiniões muito fortes, como era Murramed Ali, por exemplo.

Mas isso não quer dizer que ele não se posicionou, inclusive em causas importantes da nossa história. existem alguns momentos em que Pelé se posicionou, como por exemplo esse trecho de uma entrevista dele ao Jô Soares, quando era ministro dos esportes:

“Eu acho que o Brasil tem pouca representatividade negra no congresso. Por felicidade, por respeito, ou por tudo que eu fiz, eu sou um dos negros que tem um cargo alto no governo. Então, eu acho que sou um grande exemplo. Então eu acho que o negro tem que se unir e tem que votar em negro par nós termos mais representatividade no governo.”

Outra é na época das, diretas já, quando havia um movimento geral para a realização do voto direto. Pelé tira essa foto para a capa da Revista Placar, e mostra o seu posicionamento.

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Um dos posicionamentos em favor de causas sociais mais famosos foi quando ele fez o milésimo gol.

Pelé passou por grande pressão de parte da opinião pública e do governo militar depois que decidiu se aposentar da seleção brasileira. Ele teve que enfrentar insultos racistas de parte da imprensa que o escreviam críticas preconceituosas nos jornais. Teve que falar pessoalmente diante de ministros militares que não queria mais jogar pela seleção. Teve que enfrentar um decreto lei que dava poderes a João Havelange, então presidente da CBD, e que depois virou CBF, de requisitar qualquer jogador para jogar na seleção, sob pena de ser suspenso ou sofrer outras punições. Pelé foi firme em sua decisão e toda essa pressão não foi suficiente para demovê-lo de sua decisão de aposentar-se da seleção.

Pelé sabia da sua importância e influência nas pessoas, ele sempre escolheu muito bem que tipo de produto estaria atrelado a sua imagem. Por este motivo, desde novo ele tomou a decisão de não ser garoto propaganda de bebidas alcóolicas e cigarro.

Independente ou não da postura de Pelé em ser garoto-propaganda por tanto tempo, o que é certo, é que ele dedicou a vida a manter a imagem do Pelé viva e o que ele representa para o mundo todo promovendo o Brasil, o futebol e a seleção brasileira.

Edson Arantes do Nascimento morreu no dia 29 de dezembro de 2022. Pelé não. Pelé é eterno. Eterno para um mundo muito além do futebol. Eterno em nossas memórias e nossos corações. Eterno nos livros de história. E daqui a mil anos, quando perguntarem qual foi o maior atleta que já existiu? A resposta imediata será: Pelé!