Ele se definia como “especialista em cornologia, sofrências e deficiências capilares”. Claro que isso era uma brincadeira de alguém que tinha um humor inigualável. A verdade é que Tim Maia se consagrou como um dos artistas mais queridos e respeitados da música brasileira.
Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, nasceu no Rio de Janeiro em 28 de setembro de 1942 e, o que se tem certeza é que ele veio a este mundo deixar seu nome na história da música popular brasileira. Polêmico, com acertos e erros, mas, antes de tudo, ele era autêntico. Fazia o que queria, quando queria e como queria e a única pessoa que conseguia remover uma ideia da cabeça dele era a usa mãe, Maria Imaculada Nogueira. Toda entrevista que ele concedia era repleta de bom humor e piadas e sempre tinha um momento que deixava o entrevistador sem palavras.
Seu amigo Nelson Motta, autor da biografia “Vale Tudo” e diretor da a série documental "Vale tudo com Tim Maia", diz:
“Tim Maia é multidão, confusão, festa, baile. Mas esse material inédito mostra também um outro lado, em que ele se revela amoroso, doce e carinhoso”.
Tim era um apaixonado por animais, durante a sua vida teve diversos animais, especialmente cães. O animal mais curioso que ele teve era um gavião que tinha o nome de Empresário.
Tim também criou numa época uma vaca e um boi que o vendedor falou para ele que eram “minibois” alterados geneticamente para não crescer. Os animais chegaram para Tim criar mas, depois de um ano, eles já estavam maiores do que o Tim.
Foi pioneiro nos gêneros musicais soul e funk no Brasil, e cantou e fez parcerias com várias personalidades da música popular brasileira como: Roberto Carlos, Gal Costa, Elis Regina, Sandra de Sá e Nelson Gonçalves.
Seu talento era indiscutível, assim como sua personalidade forte, que o atrapalhou inúmeras vezes durante a vida.
Pode-se dizer que Tim Maia era um autodidata da música, tudo que ele aprendeu foi ao longo das experiencias musicais com as bandas e pessoas que convivia. Assim como um maestro numa orquestra ele compunha uma música já sabendo o que cada instrumento iria fazer.
Com o ouvido muito apurado musicalmente era muito exigente com a qualidade do som em seus shows, ele sempre pedia para ajustar som, isso era primordial para ele. Quem não lembra das frases como: “bota agudo no bumbo” ou “dá retorno! dá grave!!”
Uma característica de Tim Maia era que ele levava tudo ao extremo. Um simples desentendimento virava uma guerra.
Ele já brigou com Roberto Carlos na época em que dois faziam parte do conjunto vocal, The Sputniks. O grupo se apresentou no programa Clube do Rock de Carlos Imperial na TV Tupi. Lá, Roberto disse que também imitava Elvis Presley. Imperial gostou e o colocou para tocar sozinho, o que Tim achou uma grande traição.
Discutiu com Raul Seixas por causa de droga, Raul defendia a cocaína e Tim defendia a maconha e, por incrível que pareça, esse foi o motivo da briga.
Ligou para a Tv Globo falando que iria atirar no humorista Bussunda. Bussunda estava imitando Tim durante uma apresentação do Caceta e Planeta no programa do Faustão.
Um dos excessos dele era com relação a comida. A obesidade o acompanhou quase que a vida toda. Isso foi um fator complicador da sua morte.
Um dos outros excessos dele era a droga. O consumo excessivo de drogas causou um forte impacto na sua carreira. Vários compromissos não foram cumpridos, pois no dia anterior ele havia consumido droga e álcool. Ninguém levava muito a sério se o Tim Maia iria cumprir um compromisso, isso já tinha virado motivo de piada.
Muitas de suas composições descreviam o sentimento que ele estava naquele momento. Tim Maia dizia: “as pessoas têm que sofrer para fazer uma música”. Como é o caso da música, "Você", que foi inspirada na história de amor entre Eduardo Araújo e Silvinha, e foi composta enquanto Tim Maia, com dificuldades financeiras, estava passando um tempo na casa do casal. Outro momento de dificuldade de Tim Maia serviu para ele compor a música, “Azul da cor do mar”, na época em que compôs a música ele ainda não fazia sucesso, por isso estava morando de favor, sem dinheiro, se sentindo feio e sozinho.
Como sempre surpreendente. Tim Maia, em 1974, descobriu o livro “Universo em Desencanto” e isso mudou sua forma de ver a vida. Mudou de hábitos radicalmente, passando a seguir os ensinamentos do livro e disse que quem quisesse continuar na banda deveria seguir os mesmos ensinamentos, ou seja, nada de bebidas, cigarro ou drogas. Sexo só com a intenção de procriar e todos só poderiam usar branco, inclusive os instrumentos musicais foram pintados. Essa fase durou dois anos e é considerada a fase em que a qualidade técnica da música e da voz de Tim foi a melhor de toda a sua carreira.
Recentemente foi divulgado um fato que deixou Tim Maia muito triste e magoado. Tim deixou a prisão em 1967, após cumprir pena por tentativa de roubo. E, num esforço para se reerguer, foi ao encontro do seu amigo da época dos “The Sputniks”, Roberto Carlos, que já fazia um estrondoso sucesso.
Tim Maia diz o seguinte:
“Eu li um artigo na Manchete que era o seguinte: Roberto Carlos compra o seu oitavo carro. Foi aí que resolvi: quando sair dessa m aqui, eu vou à luta”
“Assim... o que eu passei em São Paulo por causa do Roberto Carlos, não foi fácil. Minha luta foi completamente individual, não teve ninguém para ajudar. Muito pelo contrário, as pessoas fechavam as portas.”
Tim conseguiu encontrar Roberto Carlos na rua quando tinha acabado de apresentar seu programa, Jovem Guarda, que fazia ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa. Ele pediu ajuda ao antigo parceiro de banda, que estava cercado de produtores e assessores. Tim chega para Roberto e fala o seguinte:
“Meu irmão, estou durinho, cara. Não tenho dinheiro nem pra voltar. Aí o Roberto falou, dá um dinheiro aí pro Tião.”
Aí o Roberto falou:
"Dá um dinheiro aí pro Tião.”
Um assessor de Roberto Carlos amassou 10 mil e jogou pro alto, isso fez com que Tim tivesse naquele instante um acesso de choro.
Atualmente, Roberto Carlos e sua assessoria dizem que isso nunca ocorreu e que Roberto Carlos sempre o ajudou, tanto financeiramente, quanto gravando a música “Não vou ficar”.
E realmente, Roberto Carlos, ajudou Tim Maia gravando a música “Não vou ficar”. E a composição dessa música mostra o enorme talento do Tim Maia.
Inicialmente, Tim queria que Roberto gravasse "Você", composta por ele e gravada por Eduardo Araújo no álbum A Onda é Boogaloo de 1968. Mas, Roberto queria mudar o rumo da carreira, pois não queria mais fazer músicas com a mesma temática romântica e, desta forma, pediu para que Tim compusesse uma canção onde um homem acabava de terminar um relacionamento. No dia seguinte Tim compôs “Não Vou Ficar” e a entregou pronta na mesma semana.
Em 1985 Tim participou do especial de fim de ano do Roberto Carlos, mas, na verdade, eles nunca se acertaram a ponto de retomarem a amizade que um dia tiveram lá da juventude.
Após passar mal na gravação de um espetáculo para a TV no Teatro Municipal de Niterói, Tim foi levado ao hospital e ficou internado por 7 dias. Tim Maia morreu no dia 15 de março de 1998 em Niterói, aos 55 anos, vítima de um de choque séptico, colapso do organismo causado por infecção generalizada. Mas o rei do soul, eleito a maior voz masculina nacional, ficará para sempre vivo em nossa memória com sua energia incomparável e presença marcante.